domingo, 28 de setembro de 2008

Thiago e Silencio, em Caminhos da Escuridão

Continuando...
Após ver meus pais chorando enquanto pediam desculpas por ter de me internar, eu não consegui ficar triste... eu ainda estava travado da cocaína, tudo naquele momento parecia extremamente normal e feliz. Abraçei meus pais dizendo que estava tudo bem, então, três enfermeiros entraram na sala pedindo para que eu tira-se tudo dos meus bolsos, meu cinto e etc.
Entreguei na mão de minha mãe, celular, chave, carteira, soco inglês e meu canudinho de bambu que eu usava tanto para maconha quanto para a cocaína. Eles me seguraram para eu não fugir apertando fortemente meus braços, mas eu disse "tudo bem, eu não vou fugir." e abraçei meu irmão, falando no ouvido dele para que pega-se minha escova de dentes dobravel do meu banheiro e joga-se fora, pois era lá que estava o resto da cocaína. Como fui ingênuo.
Entrei no horario de almoço, estavam todos comendo e muitos levantaram para me comprimentar. A maioria com roupas desbotadas, bermudas largas demais e todos sem cadarços nos tenis [era proibido, afinal como deve ser facil matar alguém enforcado com um cadarço de tenis.]. Lembro que a primeira coisa que eu ouvi deles foi "Quer fazer um brick na tua camiseta?", eu era tão preso no meu mundo que nem fazia ideia do que poderia ser um brick, mas imaginei que fosse algum tipo de troca e recusei. Ouvi essa historia do brick todo o tempo que eu fiquei lá.
Antes de começar a comer, fui levado até o posto de enfermagem aonde engoli forçadamente uma pilula laranja e duas brancas. Ingenuidade minha denovo.
Fui dopado e lembro de acordar só no dia seguinte com o enfermeiro empurrando mais pilulas pela minha garganta abaixo, assim foi por 3 dias seguidos, eu acordei somente para ir comer, não mencionei ir ao banheiro, poisé, foi proposital.
Depois disso conheci varias pessoas lá dentro, tanto pessoas boas que erraram quanto pessoas ruins que voltariam para lá ou acabariam em um caixão em muito pouco tempo. Dessas pessoas posso destacar algumas que me iluminaram lá dentro mais do que eu poderia ter me iluminado do lado de fora, Mauricio, Giovanni, Diana, Mexicano e o Thiago. Bons amigos que conquistei lá dentro depois que descobriram que eu amava escrever, jogar xadrez, conversar, avacalhar com muiscas e ouvir as experiencias das pessoas, tudo isso fiz pelos 5.

Depois eu conto o resto da historia.

4 comentários:

Vanessa Ayala disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Quanto mais eu assimilo tua história, mais te amo. Não pelo menino doce, atencioso, belo que és pra mim hoje, mas por ter pasado por todo esse mar negro e ter saido ileso.Apesar de ser bastante complexo entender como eu me orgulho de cada momento de vida que tivestes, tenta acreditar nisso. Cada vez mais, cada dia, cada pequena conquista é uma grande vitória, porque agora a escolha é tua.Não gosto daqueles que passam ilesos pela vida, o caminho deles nunca foi realmente traçado, é como se seguissem o fluxo das milhares de pessoas que levantam, tomam café, nem beijam a mulher ou os filhos e vão trabalhar.Parece que nessa "não escolha" de vida falta algo, que é esse algo que hoje vejo em ti, ciente das limitações, com senso da realidade, tu fez tua história.Eu te amo por ousares.

Anônimo disse...

erros do coment anterior:

*passado
*saído

Luciana. disse...

é... :/